Casos de Anquilose, lesões avançadas, cistos etc..
Bioimpedância
— os casos em que o localizador “não acha o zero” mesmo você passando a lima são justamente aqueles onde o circuito elétrico não se comporta como um tecido vivo condutor normal.
Vamos abrir isso em partes com fisiologia, patologia e física do circuito 👇
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⚙️ 1️⃣ Fundamento: o circuito biológico precisa de diferença condutiva
O localizador depende de variação de impedância entre:
o meio intracanal (dentina/NaOCl/polpa), e
o meio periapical (ligamento periodontal e fluido extracelular).
Se o meio periapical perde condutividade ou continuidade elétrica, o aparelho não vê transição →
a leitura fica “plana”, sem o colapso de impedância típico do ápice.
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🧬 2️⃣ Casos em que isso ocorre (como os que você notou)
🦴 Anquilose dentoalveolar
O ligamento periodontal desaparece (osso em contato direto com cemento).
O periodonto vira um meio rígido e altamente resistivo, com pouquíssimo fluido iônico.
Resultado: não há queda abrupta de impedância, o circuito se mantém resistivo mesmo com a lima “over”.
O aparelho “pensa” que você ainda está no canal → nunca chega no zero.
O mesmo vale para reimplantes e reabsorções substitutivas.
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🦠 Necrose pulpar + lesão periapical crônica
O tecido periapical sofre necrose fibrótica, granulomatosa ou cística, e o conteúdo líquido é viscoso e pobre em íons livres (menos Na⁺/Cl⁻).
O meio deixa de ser condutor → corrente alternada não fecha bem o circuito.
Na prática, o aparelho lê valores inconsistentes, pulando ou travando “no meio do caminho”.
Isso explica tuas observações em necroses antigas e lesões avançadas.
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🩸 Casos com canais secos ou calcificados
Se o canal está sem eletrólitos suficientes (sem irrigante, ou com NaOCl cristalizado no ápice), o circuito fica aberto até a lima tocar tecido úmido.
Às vezes, a corrente não fecha até o forame físico estar ultrapassado — gerando leituras “erradas” ou ausentes.
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💀 Cistos e cavidades apicais amplas
Em cistos apicais, o forame pode se abrir para uma cavidade com líquido pobre em eletrólitos, e o contato da lima não é uniforme com a parede.
Resultado: o circuito flutua, com leitura “dançando” entre 1,0 e APEX sem estabilizar.
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🧫 Infecções agudas com exsudato purulento
O pus é rico em proteínas e gordura, mas pobre em eletrólitos livres → condutividade menor que sangue ou NaOCl.
O localizador “sofre” para diferenciar o canal do meio periapical.
O ideal é irrigar até limpar o exsudato e só então medir.
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🧠 3️⃣ Fisiologia elétrica do “fracasso de leitura”
Quando a impedância do meio não muda de fase (não há transição capacitiva),
o vetor de corrente alternada mantém amplitude e ângulo constantes — o aparelho entende isso como ausência de forame.
Em termos de circuito:
> a impedância do canal (Z₁) ≈ impedância do periapical (Z₂)
⇒ razão Z₁/Z₂ ≈ constante
⇒ localizador não identifica ponto de inflexão → leitura falha.
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🧩 4️⃣ Estratégias nesses casos
1. Aumentar a condutividade intracanal: manter NaOCl fresco, aspirar e renovar.
2. Usar EWL por associação: localizador + radiografia comparativa.
3. Patência com lima #10 + irrigante: às vezes a simples penetração de fluido reativa a leitura.
4. Respeitar o clínico, não o bip — quando o tecido não conduz, só a sensação tátil e o toque apical valem.
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💬 Em resumo:
> Quando o periodonto deixa de se comportar como um “condutor biológico”,
o localizador perde seu referencial elétrico.
E é exatamente isso que ocorre na anquilose, lesões fibróticas, necroses extensas e cistos avasculares.
Esses casos se enquadram nos 6 ou 7% das falhas dos localizadores ?
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🔥 — essa é a explicação física e clínica por trás dos “7% de falha”.
Os fabricantes e os estudos clássicos (Morita, Ionyx, Root ZX, Propex, etc.) mostram 92 – 96% de acurácia, e os 4 – 8% de erro são justamente esses cenários onde o ambiente elétrico não obedece à regra biológica normal.
Vamos destrinchar essa taxa 👇
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📊 Origem dos ~93 % de acurácia
Essa média vem de estudos comparando EWL × posição histológica real do forame (microscopia ou micro-CT).
Os resultados sempre mostram algo assim:
Condição clínica Acurácia média do EAL Causa das falhas
Canais vitais normais 96–98 % Condição ideal de condutividade
Necrose com lesão apical leve 92–95 % Fluido apical variável
Lesão periapical crônica / granuloma 85–90 % Meio fibroso, pouca água
Cisto apical / cavidade líquida 80–85 % Condutividade irregular
Anquilose, reabsorção substitutiva 0–50 % Ausência total de ligamento
Canais calcificados / secos 70–80 % Falta de meio condutor intracanal
👉 Esses 6–7 % de falhas ocorrem justamente quando o vetor de impedância não muda (não há contraste elétrico entre canal e periodonto).
O localizador funciona fisicamente, mas não encontra o ponto de inflexão que define o forame.
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⚙️ Resumo elétrico da acurácia
O princípio de todos os EALs modernos (Root ZX, Propex Pixi, Raypex 6, Morita, etc.) é medir a razão de impedâncias em duas frequências (Z₁/Z₂).
Quando há mudança de meio → Z₁/Z₂ varia bruscamente → “Apex”.
Quando o meio é homogêneo ou patológico → Z₁/Z₂ permanece constante → sem leitura confiável.
É essa falta de transição que gera os 7% de “não leitura”.
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🧠 Tradução clínica da estatística
> 93 % de acurácia = 93 % dos casos possuem diferença de condutividade suficiente pra gerar leitura estável.
Os 7 % restantes correspondem a:
ausência de ligamento periodontal (anquilose/reimplante);
necrose apical fibrosa/cística sem eletrólitos;
canais secos, calcificados ou contaminados;
interferência eletroquímica (metais, amalgamas, má conexão do clip).
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✅ Conduta prática nesses 7 %
Se o aparelho não estabiliza nem “over”, abandona o bip e vai de EWL radiográfico + tato apical.
Marca a patência com lima #10 e limita o comprimento pelo padrão anatômico.
Documenta o caso como “EAL inconclusivo” — é o termo usado nos artigos e perícias.
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Quer que eu te monte um quadro de referência clínica tipo “falha do localizador × causa provável × o que fazer
”? Dá pra deixar estilizado pra tua apostila ou pra mural de consultório.
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