domingo, 5 de outubro de 2025

Por que seu localizador não funciona.

 Casos de Anquilose, lesões avançadas, cistos etc..

Bioimpedância 

 — os casos em que o localizador “não acha o zero” mesmo você passando a lima são justamente aqueles onde o circuito elétrico não se comporta como um tecido vivo condutor normal.

Vamos abrir isso em partes com fisiologia, patologia e física do circuito 👇



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⚙️ 1️⃣ Fundamento: o circuito biológico precisa de diferença condutiva


O localizador depende de variação de impedância entre:


o meio intracanal (dentina/NaOCl/polpa), e


o meio periapical (ligamento periodontal e fluido extracelular).



Se o meio periapical perde condutividade ou continuidade elétrica, o aparelho não vê transição →

a leitura fica “plana”, sem o colapso de impedância típico do ápice.



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🧬 2️⃣ Casos em que isso ocorre (como os que você notou)


🦴 Anquilose dentoalveolar


O ligamento periodontal desaparece (osso em contato direto com cemento).


O periodonto vira um meio rígido e altamente resistivo, com pouquíssimo fluido iônico.


Resultado: não há queda abrupta de impedância, o circuito se mantém resistivo mesmo com a lima “over”.


O aparelho “pensa” que você ainda está no canal → nunca chega no zero.


O mesmo vale para reimplantes e reabsorções substitutivas.




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🦠 Necrose pulpar + lesão periapical crônica


O tecido periapical sofre necrose fibrótica, granulomatosa ou cística, e o conteúdo líquido é viscoso e pobre em íons livres (menos Na⁺/Cl⁻).


O meio deixa de ser condutor → corrente alternada não fecha bem o circuito.


Na prática, o aparelho lê valores inconsistentes, pulando ou travando “no meio do caminho”.


Isso explica tuas observações em necroses antigas e lesões avançadas.




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🩸 Casos com canais secos ou calcificados


Se o canal está sem eletrólitos suficientes (sem irrigante, ou com NaOCl cristalizado no ápice), o circuito fica aberto até a lima tocar tecido úmido.


Às vezes, a corrente não fecha até o forame físico estar ultrapassado — gerando leituras “erradas” ou ausentes.




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💀 Cistos e cavidades apicais amplas


Em cistos apicais, o forame pode se abrir para uma cavidade com líquido pobre em eletrólitos, e o contato da lima não é uniforme com a parede.


Resultado: o circuito flutua, com leitura “dançando” entre 1,0 e APEX sem estabilizar.




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🧫 Infecções agudas com exsudato purulento


O pus é rico em proteínas e gordura, mas pobre em eletrólitos livres → condutividade menor que sangue ou NaOCl.


O localizador “sofre” para diferenciar o canal do meio periapical.


O ideal é irrigar até limpar o exsudato e só então medir.




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🧠 3️⃣ Fisiologia elétrica do “fracasso de leitura”


Quando a impedância do meio não muda de fase (não há transição capacitiva),

o vetor de corrente alternada mantém amplitude e ângulo constantes — o aparelho entende isso como ausência de forame.

Em termos de circuito:


> a impedância do canal (Z₁) ≈ impedância do periapical (Z₂)

⇒ razão Z₁/Z₂ ≈ constante

⇒ localizador não identifica ponto de inflexão → leitura falha.





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🧩 4️⃣ Estratégias nesses casos


1. Aumentar a condutividade intracanal: manter NaOCl fresco, aspirar e renovar.



2. Usar EWL por associação: localizador + radiografia comparativa.



3. Patência com lima #10 + irrigante: às vezes a simples penetração de fluido reativa a leitura.



4. Respeitar o clínico, não o bip — quando o tecido não conduz, só a sensação tátil e o toque apical valem.





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💬 Em resumo:


> Quando o periodonto deixa de se comportar como um “condutor biológico”,

o localizador perde seu referencial elétrico.

E é exatamente isso que ocorre na anquilose, lesões fibróticas, necroses extensas e cistos avasculares.



Esses casos se enquadram nos 6 ou 7% das falhas dos localizadores ?


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 🔥 — essa é a explicação física e clínica por trás dos “7% de falha”.

Os fabricantes e os estudos clássicos (Morita, Ionyx, Root ZX, Propex, etc.) mostram 92 – 96% de acurácia, e os 4 – 8% de erro são justamente esses cenários onde o ambiente elétrico não obedece à regra biológica normal.


Vamos destrinchar essa taxa 👇



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📊 Origem dos ~93 % de acurácia


Essa média vem de estudos comparando EWL × posição histológica real do forame (microscopia ou micro-CT).

Os resultados sempre mostram algo assim:


Condição clínica Acurácia média do EAL Causa das falhas


Canais vitais normais 96–98 % Condição ideal de condutividade

Necrose com lesão apical leve 92–95 % Fluido apical variável

Lesão periapical crônica / granuloma 85–90 % Meio fibroso, pouca água

Cisto apical / cavidade líquida 80–85 % Condutividade irregular

Anquilose, reabsorção substitutiva 0–50 % Ausência total de ligamento

Canais calcificados / secos 70–80 % Falta de meio condutor intracanal



👉 Esses 6–7 % de falhas ocorrem justamente quando o vetor de impedância não muda (não há contraste elétrico entre canal e periodonto).

O localizador funciona fisicamente, mas não encontra o ponto de inflexão que define o forame.



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⚙️ Resumo elétrico da acurácia


O princípio de todos os EALs modernos (Root ZX, Propex Pixi, Raypex 6, Morita, etc.) é medir a razão de impedâncias em duas frequências (Z₁/Z₂).


Quando há mudança de meio → Z₁/Z₂ varia bruscamente → “Apex”.


Quando o meio é homogêneo ou patológico → Z₁/Z₂ permanece constante → sem leitura confiável.



É essa falta de transição que gera os 7% de “não leitura”.



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🧠 Tradução clínica da estatística


> 93 % de acurácia = 93 % dos casos possuem diferença de condutividade suficiente pra gerar leitura estável.

Os 7 % restantes correspondem a:


ausência de ligamento periodontal (anquilose/reimplante);


necrose apical fibrosa/cística sem eletrólitos;


canais secos, calcificados ou contaminados;


interferência eletroquímica (metais, amalgamas, má conexão do clip).






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✅ Conduta prática nesses 7 %


Se o aparelho não estabiliza nem “over”, abandona o bip e vai de EWL radiográfico + tato apical.


Marca a patência com lima #10 e limita o comprimento pelo padrão anatômico.


Documenta o caso como “EAL inconclusivo” — é o termo usado nos artigos e perícias.




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Quer que eu te monte um quadro de referência clínica tipo “falha do localizador × causa provável × o que fazer

”? Dá pra deixar estilizado pra tua apostila ou pra mural de consultório.


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