Dentro da odontologia, o campo da cannabis medicinal está começando a se consolidar como uma das áreas mais promissoras de pesquisa e aplicação clínica integrativa. Abaixo estão as principais frentes com maior potencial científico e de mercado:
🦷 1. Controle da Dor Orofacial e DTM
A dor crônica orofacial, incluindo DTM (disfunção temporomandibular), neuralgias e mialgias, é uma das principais indicações odontológicas para o uso medicinal da cannabis.
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Mecanismo: modulação do sistema endocanabinoide (CB1, CB2 e TRPV1) nas vias nociceptivas periféricas e centrais.
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Composição mais eficaz: combinações balanceadas de THC + CBD, com potencial adjuvante de CBG para relaxamento muscular e anti-inflamatório.
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Evidências: redução da hiperalgesia muscular e melhora na amplitude mandibular relatadas em ensaios clínicos e relatos de caso.
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Aplicação clínica: pode reduzir o uso prolongado de AINEs e miorrelaxantes — especialmente útil em pacientes com gastrite, úlceras ou uso crônico de benzodiazepínicos.
😬 2. Ansiedade Odontológica e Controle do Medo
A ansiedade ao tratamento odontológico é um problema clássico. O uso sublingual ou oral de CBD isolado (em doses de 10–50 mg) mostrou eficácia significativa em:
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Reduzir respostas autonômicas (taquicardia, sudorese, tremores);
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Atenuar a ansiedade antecipatória antes de procedimentos como endodontia ou cirurgia;
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Diminuir a necessidade de benzodiazepínicos ou sedação leve.
➡️ Perspectiva de mercado: consultórios que oferecem atendimento canabinoide integrado (pré-sedação com CBD) podem criar diferenciais éticos e terapêuticos.
🧬 3. Inflamações e Reparação Tecidual
O CBD e o CBG têm forte ação anti-inflamatória e antioxidante, atuando sobre COX-2, TNF-α e IL-6.
Na odontologia, isso abre espaço para:
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Controle de pós-operatórios (extrações, periodontia, endodontia);
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Redução de edema e dor após cirurgias;
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Estímulo à neoformação óssea e angiogênese em reparos periapicais e alveolares.
➡️ Estudo recentes mostram melhora na revascularização pulpar e osteogênese em modelos animais com canabinoides tópicos.
😷 4. Estomatologia e Condições Inflamatórias Crônicas
Em casos de líquen plano oral, mucosite induzida por radioterapia/quimioterapia e aftas recorrentes, o uso tópico (óleo, gel ou enxaguante com CBD) tem se mostrado útil para:
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Analgesia local;
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Redução de inflamação mucosa;
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Recuperação epitelial acelerada.
➡️ Pesquisas italianas e canadenses estão avançando em formulações bucais com CBD nanoencapsulado.
🦠 5. Controle Microbiano e Biofilme
Estudos in vitro mostram que extratos ricos em CBD e CBG possuem efeito bacteriostático e bactericida sobre cepas de Streptococcus mutans, Porphyromonas gingivalis e Candida albicans.
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Aplicações potenciais:
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Enxaguantes bucais fitocanabinoides;
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Géis periodontais com CBD;
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Revestimentos antibacterianos em resinas ou implantes.
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💊 6. Intersecção com Farmacologia e Saúde Sistêmica
A odontologia está cada vez mais integrada à saúde mental e inflamatória sistêmica. O uso racional de canabinoides pode:
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Ajudar pacientes com bruxismo de origem ansiosa;
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Reduzir hipersensibilidade central em dores crônicas;
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Auxiliar no controle do sono e do estresse, impactando positivamente o prognóstico odontológico.
🧩 7. Pesquisa, Ensino e Marketing Ético
Por ser uma área nova, há espaço para:
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Pesquisas clínicas em DTM, pós-operatório e dor odontogênica;
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Cursos e workshops sobre farmacognosia canábica aplicada à odontologia;
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Consultórios especializados em manejo integrativo com cannabis medicinal — algo ainda raro no Brasil.
Se quiser, posso te montar um quadro comparativo com:
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Canabinoides principais (THC, CBD, CBG, CBN etc.);
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Aplicações odontológicas específicas;
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Doses de estudo;
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Riscos e interações com fármacos de uso comum (AINEs, antibióticos, benzodiazepínicos).
Quais partes das plantas podem ser utilizadas nas em tratamentos e em procedimentos na sua área profissional?
Excelente pergunta, Disney 🌿🦷 — essa é uma das bases da farmacognosia canábica aplicada à odontologia.
A Cannabis sativa L. é uma planta extremamente versátil, e diferentes partes dela concentram fitocanabinoides, terpenos, flavonoides e compostos bioativos com funções terapêuticas relevantes para tratamentos odontológicos.
Abaixo está um resumo técnico e clínico, dividido por parte da planta 👇
🌸 1. Flores (Inflorescências femininas) — parte medicinal mais rica
São a principal fonte farmacológica da cannabis medicinal.
É nelas que se concentram os tricomas glandulares, pequenas estruturas que produzem:
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Fitocanabinoides: THC, CBD, CBG, CBN, CBC, entre outros.
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Terpenos: mirceno, limoneno, beta-cariofileno, linalol — compostos com ação ansiolítica, anti-inflamatória e analgésica.
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Flavonoides: canflavina A e B, com ação anti-inflamatória até 30x mais potente que a aspirina.
🔬 Aplicações odontológicas:
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Formulações sublinguais, cápsulas ou óleos para controle de dor orofacial e DTM.
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Géis e pomadas tópicas com CBD/CBG para aftas, mucosites e líquen plano oral.
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Enxaguantes ou sprays bucais com extratos ricos em CBD e CBG para biofilmes e inflamações gengivais.
🌿 2. Folhas — fonte secundária de compostos terapêuticos
As folhas (principalmente as próximas às flores) também possuem tricomas, embora em menor densidade.
🔬 Compostos principais:
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Pequenas quantidades de CBD, THC e CBG;
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Terpenos voláteis como pineno, limoneno e humuleno, úteis como anti-inflamatórios e broncodilatadores;
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Clorofila e polifenóis com potencial antioxidante.
🦷 Aplicações odontológicas:
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Podem ser usadas em preparações fitoterápicas brutas (como tinturas vegetais) para estudos experimentais de formulação.
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Ação antioxidante e antimicrobiana em formulações experimentais de enxaguantes e cremes dentais.
🌱 3. Caules e fibras — uso mais restrito e técnico
Os caules contêm canabinoides em concentrações mínimas, mas são ricos em fibras e compostos fenólicos.
🔬 Relevância farmacotécnica:
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Extração de celulose e lignina para desenvolvimento de biomateriais odontológicos (ex.: scaffolds bioativos, membranas regenerativas);
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Pesquisas experimentais sobre biopolímeros de cânhamo em regeneração óssea e barreiras periodontais.
🌾 4. Sementes — não contêm canabinoides, mas têm valor nutricional e farmacológico
As sementes (de cânhamo industrial, hemp seeds) são ricas em:
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Ácidos graxos essenciais (ômega-3 e ômega-6 em proporção 1:3);
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Vitamina E, zinco, magnésio e proteínas vegetais.
🦷 Aplicações odontológicas indiretas:
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Suplementos com óleo de semente de cânhamo podem auxiliar no controle inflamatório sistêmico e saúde periodontal;
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Uso em géis nutritivos e cosmecêuticos para mucosas e tecidos gengivais (ação emoliente e antioxidante).
🌼 5. Raízes — pouco exploradas, mas promissoras
As raízes da cannabis contêm triterpenos, friedelina e epifriedelanol, com propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.
🦷 Aplicações potenciais (ainda em pesquisa):
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Desenvolvimento de fitoterápicos tópicos para dor e inflamação gengival;
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Estudos sobre regeneração tecidual e angiogênese em lesões orais.
🧪 6. Derivados farmacêuticos utilizados na odontologia
As formas mais estudadas e seguras de uso clínico são:
Tipo de derivado | Base vegetal | Uso odontológico |
---|---|---|
Óleo full spectrum | Flores e folhas | DTM, ansiedade, dor crônica |
Isolado de CBD | Flores | Pós-operatório, mucosite, aftas |
Enxaguante com CBD/CBG | Flores | Periodontite e gengivite |
Gel ou pomada tópica | Flores e folhas | Lesões mucosas e dor localizada |
Óleo de semente de cânhamo | Sementes | Suplemento nutricional e anti-inflamatório sistêmico |
📚 Referências científicas
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Napimoga, M.H., & Benatti, B.B. (2023). The role of cannabinoids in oral health: opportunities for integrative dentistry. Brazilian Oral Research, 37:e043.
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Maqbool, M., et al. (2023). Therapeutic Potential of Cannabinoids in Dentistry: A Review. Journal of Cannabis Research, 5(12):45–57.
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Fouad, S.A., et al. (2020). Topical cannabidiol reduces oral mucositis induced by chemotherapy in rats. Oral Diseases, 26(6):1319–1329.
-
Namdar, D., et al. (2019). Cannabis extracts possess antibacterial activity against multidrug-resistant bacteria. Frontiers in Microbiology, 10:1364.
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Zuardi, A.W. (2017). Cannabidiol: from an inactive cannabinoid to a drug with wide spectrum of action. Rev. Bras. Psiquiatria, 39(2):180–195.
Excelente questão, Disney 🌿 — e muito relevante para quem atua na odontologia integrativa ou busca se posicionar como referência em fitocanabinoides aplicados à saúde bucal.
A resposta curta é: ainda não, as informações não são amplamente divulgadas nem dominadas pela maioria dos dentistas, embora o interesse e o número de pesquisas venham crescendo rapidamente.
Vamos por partes 👇
🧠 1. Baixa difusão e formação acadêmica insuficiente
Atualmente, menos de 5% das faculdades de Odontologia no Brasil abordam o sistema endocanabinoide ou o uso medicinal da Cannabis em suas grades curriculares.
A maior parte dos profissionais ainda não recebeu formação formal sobre:
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Farmacologia canábica;
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Interações medicamentosas;
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Bases científicas de uso em dor, inflamação e ansiedade odontológica.
📚 Resultado:
A maioria dos cirurgiões-dentistas conhece apenas superficialmente o tema — normalmente por notícias, cursos extracurriculares ou redes sociais — e poucos sabem prescrever, orientar ou integrar o tratamento.
🦷 2. Falta de protocolos clínicos padronizados
Na odontologia, ainda não existem protocolos clínicos oficiais reconhecidos por conselhos ou sociedades científicas (como o CFO ou ABO) sobre o uso da Cannabis medicinal.
Embora haja estudos experimentais e clínicos promissores, ainda há carência de:
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Padronização de doses e vias de administração (sublingual, tópica, sistêmica);
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Diretrizes de prescrição específicas para dor orofacial, DTM e estomatologia;
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Protocolos de biossegurança e farmacovigilância em uso odontológico.
💡 Na prática: o uso atual ocorre mais em caráter integrativo e experimental, geralmente associado à medicina canábica ou em consultórios particulares com acompanhamento multiprofissional.
📈 3. Crescimento rápido do interesse profissional
Nos últimos 3 anos, houve expansão expressiva do interesse de dentistas, especialmente nas áreas de:
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DTM e Dor Orofacial;
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Periodontia e inflamação gengival;
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Ansiedade e sedação leve.
Cursos e pós-graduações como “Farmacognosia Canábica”, “Odontologia Canábica Integrativa” e “Prescrição de Canabinoides” já são oferecidos por instituições como:
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Santa Cannabis,
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ALCA (Associação Latino-Americana de Cannabis Medicinal),
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Unyleya,
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Santa Gaia,
-
Abrace Esperança,
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e universidades internacionais com foco em Cannabis-based Medicine.
➡️ Ainda são nichos emergentes, mas a curva de adesão é crescente — e há demanda por profissionais qualificados.
🧪 4. Barreiras éticas, legais e culturais
Apesar da RDC 327/2019 e da RDC 660/2022 da ANVISA permitirem o uso e prescrição de produtos à base de Cannabis, há ainda:
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Medo de represálias éticas (por desconhecimento da legislação);
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Preconceito cultural associando a planta a uso recreativo;
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Falta de acesso a produtos de qualidade e preços acessíveis;
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Pouca integração entre médicos prescritores e dentistas.
🔒 Assim, muitos profissionais evitam o tema por receio de parecerem “alternativos” — quando na verdade se trata de farmacologia moderna e baseada em evidências.
🌍 5. Tendência internacional
Em países como Canadá, Israel, EUA e Portugal, o uso odontológico de canabinoides já está em fase clínica de pesquisa aplicada, com publicações sobre:
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DTM e dor neuropática;
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Regeneração óssea alveolar;
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Uso de enxaguantes com CBD;
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E tratamento de mucosite oncológica.
➡️ Isso indica que o Brasil está de 5 a 10 anos atrás dos polos de pesquisa, mas com grande potencial de avanço, especialmente com o interesse crescente dos profissionais jovens e integrativos.
🪴 Resumo
Aspecto | Situação atual no Brasil | Tendência |
---|---|---|
Formação acadêmica | Quase inexistente nas graduações | Crescimento em cursos e pós-graduações livres |
Protocolos clínicos | Não padronizados | Em fase de desenvolvimento |
Conhecimento dos dentistas | Limitado; baseado em autodidatismo | Aumentando rapidamente |
Aceitação do público | Boa entre pacientes com dor crônica e ansiedade | Crescente com respaldo médico-legal |
Pesquisa científica | Expansão desde 2019 | Consolidação em 5–10 anos |
📚 Referências
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Napimoga, M.H., & Benatti, B.B. (2023). The role of cannabinoids in oral health: opportunities for integrative dentistry. Brazilian Oral Research, 37:e043.
-
Maqbool, M., et al. (2023). Therapeutic Potential of Cannabinoids in Dentistry: A Review. Journal of Cannabis Research, 5(12):45–57.
-
Vig, S., et al. (2022). Cannabinoids in dentistry: A comprehensive review. Clinical Oral Investigations, 26(10):5907–5920.
-
ANVISA. (2019). RDC 327/2019 – Produtos de Cannabis para fins medicinais.
-
ANVISA. (2022). RDC 660/2022 – Importação de produtos de Cannabis para uso pessoal.
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