domingo, 30 de setembro de 2012

Traumatismo em dentes decíduos e suas repercussões para as dentições:

Resumo de Odontopediatria do livro " Manual de Odontopediatria."
Traumatismo em dentes decíduos e suas repercussões para as dentições:

O cirurgião dentista precisa estar preparado para manejar o problema dos pontos de vista terapêutico e emocional, deve ter controle da situação e transmitir ao paciente e familiares serenidade e segurança.
Deve explicar a importância do tratamento para manutenção do dente decíduo na cavidade bucal e sua reabilitação para recuperar o equilíbrio das dentições, assim como a repercussão que esse traumatismo pode ocasionar aos dentes permanentes que estão formando.
Prevalência e prevenção:

O traumatismo em dentes decíduos pode afetar a criança a partir do irrompimento do primeiro dente na cavidade bucal, por volta dos 6 meses de idade, tendo uma prevalência que pode chegar a 35%. Os dentes mais afetados são os incisivos superiores  devido a sua posição mais anterior na face, pode atingir mais de um dente sendo mais frequente as lesões em tecido periodontal.
Geralmente as causas que levam ao traumatismo são as quedas quando as crianças estão andando ou correndo, essas principalmente dos 10 aos 24 meses por não terem o desenvolvimento de boa coordenação motora e reflexo.
Prevenção:  Não deixar a criança sozinha, em lugares altos, perto de escada e janelas.
Quando começarem a engatinhar tomar cuidado com mobílias, quinas, gavetas, móveis que podem ser escalados, escorregar etc...

Ao andar de carro usar cadeiras especiais e cintos apropriados, cuidado com carrinhos de bebês, brinquedos, bicicletas, patins e esportes.
FATOR PREDISPONENTE: crianças com mordida aberta anterior, protrusão dos incisivos e falta de selamento labial, normalmente encontrada em crianças com hábito de sucção digital ou chupeta e respiradores bucais, estão mais propensas ao traumatismo dental.

EXAME DO PACIENTE:

O exame deve englobar o maior número possível de sinais, sintomas e informações, visando o diagnóstico correto e prognóstico mais favorável.

O atendimento nos casos de traumatismo consiste basicamente em:
- Controle da ansiedade dos responsáveis.
- Anamnese reduzida em casos de urgência (nome, idade, endereço, telefone, responsáveis etc...) estado de saúde geral, alergias e uso de medicamentos, condição sistêmica pode interferir na recuperação da zona traumatizada.
- História do traumatismo:
   * Como ocorreu o traumatismo ?
      - acidente, queda, entre outros... observar se a história coincide com as lesões clínicas.

 * Onde ocorreu o traumatismo ?
    - terra, cimento, água etc... uma possível contaminação das áreas afetadas leva a necessidade de se prescrever medicamentos.

* Quando ocorreu o traumatismo ?
  - Fator decisivo para eleição do tratamento e para bom prognóstico do caso.

* Ocorreu traumatismo anterior ou lesão de cárie ?
 - Importante avaliar potencial de resposta biológica e se ainda é possível realizar tratamento mais conservador.

* Já foi feito algum tratamento ?
  - Avaliar tipo de intervenção que foi realizada ou não.

Sinais e sintomas como inconsciência, cefaleia, amnésia, náusea, vômito, sangramento nasal, pode indicar traumatismo craniano e ao SNC, podendo comprometer a vida, encaminhar ou acompanhar o paciente ao médico.

Condicionamento rápido da criança.

Exame geral da criança: avaliar estruturas faciais, durante exame de palpação observar desvio da linha média dos incisivos, movimento de abertura e fechamento dos maxilares podem indicar danos a região da ATM, principalmente batidas na região do mento, em que se deve encaminhar para cirurgião buco-maxilo-facial.

Limpeza da área afetada.

Exame clínico visual e palpação: examinar dente e estruturas de sustentação e oclusão (mobilidade, movimento de estruturas ósseas, saliências e crepitações, lesões cruentas ou dilaceradas, corpos estranhos, hematomas, edemas entre outras.)

Exame radiográfico: visualizar alterações, detecção de fraturas radiculares, e do processo alveolar, extensão das fraturas coronárias e sua proximidade com o tecido pulpar, tamanho da polpa radiolucidez periapical, reabsorções , corpos estranhos, deslocamento dentais, aus~encia de espaço do ligamento periodontal, em caso de luxação intrusiva ou seu aumento em caso de luxação extrusiva.
Verificar estágio de desenvolvimento radicular do dente decíduo e formação do germe do sucessor permanente.

Teste de vitalidade: tem como resposta a dor e é subjetivo, contra indicado em crianças, dor irá dificultar o atendimento.
Quando realizado avalia: sensibilidade da polpa frente a estímulos como frio (gases gelado).

Outros exames: como transiluminação tem seu valor para detecção de trincas de esmalte e mancha rósea na coroa (reabsorção interna na câmara coronária).

Diagnóstico, plano de tratamento e intervenção: todos os dados devem ser anotados na ficha.

Fazer orientação de repouso do dente: dieta pastosa, remoção do hábito de sucção, higienização, prescrição medicamentosa e antitetânica se necessária.

OBS: Importância de se marcar retornos para acompanhamento clínico e radiográfico, conforme extensão e severidade da injuria e idade do paciente.
Observar grau de rizogênese ou rizólise dos dentes decíduos e rizogênese dos dentes permanentes.
Orientar sobre repercurssões que poderá ocorrer nos dentes permanentes.

TIPOS DE TRAUMATISMOS E ORIENTAÇÕES BÁSICAS:

O traumatismo dental pode ser dividido em lesões nos tecidos duros do dente, e lesões nos tecidos de suporte, sendo mais comum na dentição decídua o trauma em tecido periodontal e no permanente em tecido dental, isso pode ser explicado pela diferença de tamanho entre esses dentes, e em razão do osso da criança ser menos mineralizado, resultando e mais deslocamentos que fraturas  nos dentes decíduos.

Lesões dos tecidos duros dos dentes;
Apesar de a estrutura dura do dente ter recebido a maior parte da força do impacto do traumatismo, que se dissipou a linha de fratura, o periodonto também absorve parte dela, podendo necessitar tratamento.

Tipos de lesões dos tecidos duros:

-Trinca ou fratura incompleta do esmalte:

Tramtamento: acompanhamento, e em caso de sensibilidade indica-se fluorterapia.

- Fratura de esmalte:
Tratamento: restauração com resina composta ou, caso não comprometa a estética, lixar e aplicar flúor.

- Fratura de esmalte e dentina sem exposição pulpar:
Tratamento: proteger a dentina o quanto antes com materiais adesivos e restaurar com resina composta.
Caso tragam o fragmento dental, pode ser realizada sua colagem.
Caso paciente demore a procurar atendimento, verifique a viabilidade pulpar e a presença de lesão apical.

-Fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar:
Tratamento: reabilitação endodôntica e reabilitação coronária, em dentição decídua com rizogênese incompleta realizar polpotomia com pasta guedes para propiciar continuidade da formação radicular.
Em caso de rizogênese completa e exposição recente ou presença de pólipo pulpar, pode ser feita polpotomia mas normalmente, pela facilidade, segurança ou necessidade de utilizar pinos e coroas para restabelecer o dente, opta-se pela pulpectomia.

-Fratura coronoradicular: (compromete a estrutura radicular e apresenta exposição pulpar)
tratamento:  exodontia e reabilitação protética.

-Fratura Radicular: nos níveis apicais e médio sem deslocamento e mobilidade da porção coronária, fazer acompanhamento.
Com mobilidade e/ou deslocamento devem ser reposicionadas e tratadas como luxação lateral (contenção semi rígida de 14-21 dias) e acompanhamento.
Quando a exodontia é indicada nem sempre o fragmento é removido devido ao risco transoperatório de lesar o germe do dente permanente se opta por deixa-lo e acompanha-lo.

Lesões dos tecidos de suporte dos dentes;
Os traumatismos das estruturas periodontais necessita da reparação do organismo do paciente, por isso o tratamento imediato é imprescindível.
As fibras periodontais precisam de condições para recuperar sendo que os primeiros 7 a 10 dias são os mais importantes pois a recuperação ocorrem nesse período.
Manter a área limpa e o dente pode ou não necessitar de reposicionamento e contenção.
Orientações básicas para casos que tenham lesado estruturas periodontais:
* manter área limpa caso não seja possível fazer a higienização com a escovação, usar gaze e solução anti-séptica ( ex; H2o oxigenada 10 vol ou solução a base de clorexidina)
* Manter a região em repouso: não morder na região, ter alimentação pastosa e evitar a sucção de dedo chupeta ou mamadeira.

Tipos de lesões dos tecidos de suporte dos dentes:

Concussão:
  ou comoção  é um pequeno traumatismo as estruturas de sustentação do dente, com hemorragia e edema do ligamento periodontal, sem mobilidade ou deslocamento anormal.
Tratamento: orientações de repouso da região e limpeza durante uma semana, acompanhamento clínico e radiográfico para observar alterações futuras.

Subluxação:  traumatismo as estruturas de sustentação do dente, com ruptura de algumas fibras do ligamento periodontal, ocasionando afrouxamento anormal.
O dente pode apresentar mobilidade mas sem deslocamento aparente.
Tratamento: semelhante ao da concussão, orientações de repouso da região e limpeza durante 1 semana, acompanhamento clínico e radiográfico para observar alterações futuras.


Luxação lateral:  o dente pode apresentar esse tipo de deslocamento e o indicado é seu reposicionamento e sua contenção, em casos de mobilidade média e grande pode-se favorecer a recuperação das fibras periodontais com contenção.
-> Contenção: auxilio para manter o dente em posição e em repouso, devendo ser flexível ou semi- rígida onde poderá ser feito com fio de nylon ou de aço e resina composta ou outros recursos, no terço médio das faces vestibulares dos dentes, devendo ter de um a dois dentes de suporte de cada lado do dente traumatizado, por 14 a 21 dias mantendo a integridade dos tecidos e proporcionando condições de limpeza.
Obs: caso o paciente chegue para atendimento após 3 semanas dificilmente a contenção surtira efeito pois a cicatrização dos ligamentos periodontais iniciarão de forma errada.

Luxação extrusiva:  deslocamento do dente no sentido axial com saída parcial do alvéolo.
Tratamento imediato: consiste em redução da luxação reposicionamento do dente e contenção flexível ou semi-rígida por 14 a 21 dias.
Tratamento mediato: não existe possibilidade de se fazer o reposicionamento do dente, então se ainda apresentar mobilidade com possibilidade de recuperar as fibras periodontais pode ser realizada a contenção. E caso atrapalhe a oclusão pode ser feito desgaste incisal.

Luxação intrusiva: é o deslocamento do dente para dentro do alvéolo, havendo compressão ou fratura do processo alveolar.
Tratamento:  deve se fazer um exame clínico cuidadoso de palpação no fundo de sulco, para verificar a possibilidade de fratura da tábua óssea V. pelo impacto da intrusão do ápice do dente, exames radiográficos oclusal modificado e lateral.
Em casos favoráveis a conduta inicial é a espera pela reerupção passiva em 15 a 30 dias.
Orientando aos responsáveis para remoção de hábitos de sucção, dieta pastosa, higienização com gaze embebida em água oxigenada, ou outra solução anti séptica, até que possa utilizar a escova, caso o dente intruido lese o germe deve ser removido.
Avulsão:  deslocamento total do dente para fora do alvéolo.
O reimplante do dente decíduo só deve ser realizado se existirem condições muito favoráveis.
A tentativa para reimplante de dente decíduo deve ser criteriosa, o tempo extra alveolar deve ser o menor possível, o dente deve chegar hidratado (em solução); o profissional deve avaliar as condições de trabalho, condições de controlar a criança e executar a contenção, relização de tratamento endodôntico na próxima sessão e a concordância do responsável de seguir a risca as recomendações de higiene, repouso dental com remoção de hábitos de sucção e alimentação pastosa, uso de medicamentos (antibióticos e analgésicos), assim como estar ciente que o tratamento pode não ter resultado positivo.

Então a reabilitação protética geralmente é realizada por meio de aparelho mantenedor de espaço estético funcional removível é a solução.

Em todos os casos de traumatismo, o tratamento deve se preocupar com a manutenção do dente e sua reabilitação, a fim de manter o equilíbrio na dentição.

Traumatismo a gengica ou a mucosa oral, como lacerações (corte), contusão (hemorragia submucosa) e abrasão (atrito) podem ocorrer.
A conduta é a limpeza da área com soro fisiológico para a parte oral e água e sabão para as partes cutâneas e remoção de corpos estranhos.

Traumatismo do osso de sustentação causando fratura do alvéolo dental ou fratura dos maxilares também podem estar associados ao traumatismo dental. O caso deve ser diagnosticado e avaliado a viabilidade de tratamento ou encaminhamento ao especialista CIRURGIÃO BUCO-MAXILO-FACIAL.


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