FUNDAMENTOS DA OCLUSÃO:
Relação Cêntrica:
No tratamento restaurador, o objetivo é criar nos dentes posteriores
contatos oclusais que estabilizem a posição da mandíbula, não criando contatos
que possam mudar sua posição natural e desestabiliza-la. A oclusão na restauração deve ser feita em
harmonia com a melhor posição condilar.
A relação
cêntrica: uma posição que há sustentação ântero-posterior
ao longo da eminência articular da cavidade glenóide, com o disco articular
interposto entre o côndilo e a eminência articular.
Essa posição dos côndilos nas cavidades glenóides é usada em odontologia como
uma posição de referência, reproduzível na montagem de modelos em
articuladores.
Define a melhor posição relativa entre todos os componentes anatômicos. O ideal
é que essa posição do côndilo também coincida com a máxima intercuspidação dos
dentes (MIC).
Para que o conceito de relação cêntrica tenha significado é preciso entender a
anatomia básica da ATM.
A. Eminência articular;
C. Côndilo;
D, disco articular;
E, Meato acústico externo;
L, Músculo Pterigoideo lateral;
R, Zona bilaminar (tecido situado atrás do disco);
S, fina parede superior da cavidade glenóide.
O osso da cavidade glenóide é delgado na face superior, não estando apto a
funcionar como área de sobrecarga. No entanto, a inclinação da eminência articular
na face anterior da cavidade é composta de substância cortical espessa capaz de
suportar carga.
O disco articular é bicôncavo, desprovido de nervos e de vasos sanguíneos na região central; é robusto;
muito parecido com um pedaço de couro de sapato. Possuem algumas fibras
musculares inseridas na face anterior, provenientes da cabeça superior do
músculo pterigoideo lateral. Esse disco insere-se na face medial e lateral do
côndilo e deve ficar situado entre este e a eminência articular quando em funcionamento. O côndilo não é esférico: sua forma é
irregular, elíptica, a qual ajuda a distribuir a carga por toda a articulação
temporomandibular, em vez de concentrá-la em pequena área.
Movimento Mandibular
O movimento mandibular pode ser decomposto em uma série de deslocamentos
que ocorrem em torno de três eixos:
1. Eixo
Horizontal:
Este movimento, no plano sagital, ocorre quando a mandíbula em relação
cêntrica realiza um movimento de abertura e fechamento puramente rotacional em
torno do eixo horizontal transversal que vai de um côndilo ao outro.
2. Eixo
Vertical:
Esse eixo ocorro no plano horizontal, quando a mandíbula se move em
excursão lateral. O centro dessa rotação é um eixo vertical que atravessa o
côndilo do lado de trabalho.
3. Eixo
Sagital:
Quando a mandíbula se move para um dos lados, o côndilo do lado oposto ao
da direção do movimento desloca-se para frente. Ao fazer isso, encontra a
eminência articular da cavidade glenóide
e move-se para baixo no lado oposto a direção do movimento, girando em
torno de um eixo ântero-posterior (sagital) que passa através do outro côndilo.
O movimento de “bisagra”, ocorre em consequência da rotação descrita pelos
côndilos nos compartimentos inferiores das ATMs num arco de 10 a 13 graus, que
cria uma separação de 20 a 25 mm entre os dentes anteriores.
Na articulação saudável, o côndilo fica em posição ântero-posterior na cavidade glenóide com o disco articular interposto quando os dentes estão em máxima intercuspidação (A). No estágio inicial de abertura, o côndilo gira em torno de seu eixo de rotação e o disco permanece estacionário (B) . Na abertura máxima, o côndilo sofre translação anterior, com o disco ainda interposto (C).
Também existe movimento de deslizamento no compartimento superior da
articulação quando o movimento da mandíbula em direção inferior é maior.
Então o eixo de rotação transfere-se para a área do forame da mandíbula, a
medida que os côndilos transladam para anterior e inferior enquanto continuam a
girando.
Quando a mandíbula desliza para a frente de tal modo que os dentes anteriores
superiores e inferiores fiquem em relação de topo, dá-se o nome de
protrusão. Idealmente, o segmento
anterior da mandíbula se deslocará ao longo de um trajeto orientado pelos
contatos entre os dentes anteriores com desoclusão completa dos dentes
posteriores.
O movimento para um dos lados colocará a mandíbula em relação
de trabalho ou de taterotrusão com esse
lado e em relação
de balanceio ou de
mediotrusão com o lado oposto; por exemplo, se a mandíbula é movida para a
esquerda, o lado esquerdo é o de trabalho, e o direito é o de balanceio.
Nesse tipo de movimento, o côndilo do lado de balanceio descreverá um arco de
direção anterior e medial.( FIG 2.8 A) Enquanto isso o côndilo do lado de
trabalho se moverá em direção lateral e um pouco para trás. (2.8B). O movimento
da mandíbula para o lado de trabalho foi descrito pela primeira vez por Bennet.
Ângulo de Bennet:
O ângulo formado no plano horizontal
entre o trajeto do côndilo no lado de balanceio (translação mandibular
lateral) e o plano sagital é chamado de
ângulo
de bennet.
Determinantes do movimento mandibular
Os dois côndilos e os dentes que estão em contato são comparados as três
pernas de um tripé invertido e suspenso do crânio. Os fatores determinantes dos
movimentos desse tripé são: posteriormente, ambas as ATMs; anteriormente, os
dentes superiores e os inferiores; no todo, o sistema neuromuscular.
O dentista não exerce controle sobre os fatores determinantes posteriores, as
ATMs, imutáveis. Apesar disso, elas
influenciam os movimentos da mandíbula e dos dentes através dos trajetos que os
côndilos devem percorrer quando a mandíbula é movida pelos músculos da
mastigação. A medida e a reprodução desses movimentos constituem a base para o
uso dos articuladores.
O determinante anterior, os dentes, orienta a mandíbula de diversas formas. Os
dentes posteriores constituem os pontos de parada vertical para o fechamento
mandibular. Também orientam a mandíbula para a posição de máxima
intercuspidação, que pode ou não coincidir com a melhor posição dos côndilos
nas cavidades glenóides.
Os dentes anteriores (de um canino ao outro) ajudam a guiar a mandíbula nas
excursões laterais direita e esquerda e nos movimentos de protrusão. Os dentes
anteriores são especialmente aptos a essa orientação graças aos seguintes
fatores:
1. Os caninos são os dentes que tem raízes mais longas e fortes em seus
respectivos arcos;
2. A carga é reduzida pela distância do fulcro ( alavanca de classe III) e
3. o limiar proprioceptivo e os reflexos concomitantes reduzem a carga.
Os dentistas podem exercer controle
direto sobre o determinante “dente” por meio de seu movimento ortodôntico, da
restauração das faces palatinas anteriores ou oclusais posteriores e do
rebaixamento, ou desgaste seletivo, de quaisquer dentes que não mantenham uma
relação harmoniosa. É possível alterar a posição intercúspidica e o guia
anterior para melhor ou pior por meio de qualquer um desses meios.
Um dos objetivos da dentística restauradora é por os dentes em harmonia cm as
ATMs. Com isso, obtém-se pressão mínima sobre os dentes e as articulações, com
esforço mínimo do sistema neuromuscular para produzir dos movimentos
mandibulares. Quando os dentes não estão em harmonia com as articulações e com
os movimentos da mandíbula, diz-se que há interferência.
Interferências Oclusais:
Interferências são contatos oclusais indesejáveis que podem produzir desvio
mandibular durante o fechamento
da mandíbula até a máxima
intercuspidação ou então opor-se a transição suave para a posição de
intercuspidação. Há quatro tipos de interferências oclusais:
1. Cêntrica.
2. No lado de trabalho.
3. No lado de balanceio.
4. Na protrusão.
Interferência em cêntrica: é um contato
prematuro que ocorre quando a mandíbula se fecha, com seus côndilos na melhor
posição nas cavidades glenóides.
Provoca o deslizamento da mandíbula em direção posterior, anterior e/ou
lateral.
Interferência no lado de
trabalho: quando há contato entre os dentes posteriores superiores e
inferiores no mesmo lado da direção do movimento da mandíbula.
Se esse contato for suficientemente forte para causar a desoclusão dos dentes
anteriores, será considerado uma interferência.
Interferência no lado de
balanceio: é um contato oclusal entre os dentes superiores e
inferiores n lado oposto ao da direção em que a mandíbula se move na excursão
lateral.
Trata-se de uma interferência de natureza particularmente destrutiva. Esse
potencial para lesar o aparelho mastigatório é atribuído as alterações que
ocorrem no braço de alavanca mandibular, no qual as forças incidem fora dos
eixos longitudinais dos dentes e há ruptura das funções musculares normais.
Interferência na protrusão:
é um contato prematuro que ocorre entre as faces mesiais dos
dentes posteriores inferiores e as faces distais dos posteriores superiores.
A proximidade dos dentes em relação aos músculos e o vetor oblíquo de forças,
além de tornarem potencialmente destrutivos os contatos entre dentes
posteriores durante a protrusão, também interferem no uso adequado dos
incisivos.
Oclusões normal e patológica
Em apenas um pouco mais de 10% da população há harmonia completa entre os
dentes e as ATMs.
Na colocação de restaurações, o dentista deve esforçar-se para criar uma
oclusão ótima, dentro das possibilidades de sua habilidade e das condições
bucais do paciente. A oclusão ótima é aquela que exige um mínimo de adaptação
por parte do paciente. Os critérios para atingi-la foram descritos por Okeson.
Princípios
de oclusão ótima:
1. No fechamento mandibular, os côndilos ficam na posição mais anterior e
superior, contra os discos, e sobre a parte posterior das eminências
articulares das cavidades glenóides. Os dentes posteriores ficam em contato
bilateral simultâneo firme e uniforme, e os dentes anteriores mantêm um contato
ligeiramente mais leve.
2. As forças oclusais incidem sobre os eixos longitudinais dos dentes.
3. Nas excursões laterais da mandíbula, os contatos no lado de trabalho (de
preferência sobre os caninos) provocam desoclusão ou separam imediatamente os
dentes do lado de balanceio.
4. Nas excursões protrusivas, os contatos entre os dentes anteriores provocam a
desoclusão dos dentes posteriores.
5. Na posição ortostática, os dentes posteriores tem contato mais efetivo que
os anteriores.
Ortostasia: posição vertical (dicionário)Caderno do quinto semestre:1- Contatos bilaterais simultâneos (contato dos dois lados ao mesmo tempo)
2- Cargas axiais ( cargas ao longo eixo dos dentes)
3- Movimento no lado de trabalho sem interferência
3.1- Guia canina (toca só o canino no lado de trabalho)
Função parcial de grupo: toca os caninos mais pré-molares
Função total de grupo: toca os caninos mais os dos pré-molares e o molar)
4- Movimento de lateralidade lado de balanceio sem interferência
5- Movimento protrusivo com desoclusão dos posteriores.
Organização da oclusão:
São três as teorias aceitas para descrever o modo como os dentes devem ou
não entrar em contato nas várias posições funcionais e excursivas da mandíbula.
São elas as oclusões bilateral balanceada, unilateral balanceada, e com
proteção mútua.
Oclusão
bilateral balanceada
Um número máximo
de dentes deve entrar em contato em todas as posições excursivas da mandíbula.
Isso é particularmente útil na contrução da prótese total na qual o contato no
lado de balanceio é importante para evitar o seu deslocamento. Depois, esse
conceito foi aplicado aos dentes naturais na reabilitação oclusal completa.
Tentava-se reduzir a carga suportada por cada dente dividindo-a entre o maior
número de dentes possível. Logo se descobriu porém que esse era um tipo de
organização difícil de ser atingido: em onsequência dos contatos múltiplos que
ocorriam entre os dentes a medida que a mandíbula se movia em suas várias
excursões, observava-se desgaste excessivo por atrição.
Oclusão
unilateral balanceada (FUNÇÃO DE GRUPO)
Também conhecida como
função de grupo, é
um método amplamente aceito e utilizado de organização dos dentes nos
procedimentos de restauração dentária hoje em dia.
* Elimina todos os contatos entre os dentes do lado de balanceio.
Para que haja oclusão unilateral balanceada é preciso que todos os dentes do
lado de trabalho fiquem em contato durante a excursão lateral, enquanto os do
lado de balanceio ficam isentos de qualquer contato. A função de grupo dos
dentes do lado de trabalho distribui a carga oclusal.
A ausência de contato no lado de balanceio evita que seus dentes sejam
submetidos a forças destrutivas de direção oblíqua observadas nas
interferências do lado de balanceio. Também poupa as cúspides de contenção
cêntrica (ou seja, as cúspides vestibulares dos dentes inferiores e as
palatinas dos superiores) de desgaste excessivo.
Oclusão
com proteção mútua
Também é conhecida como
oclusão protegida pelo
canino ou oclusão orgânica.
Em muitas bocas com periodonto sadio e desgaste mínimo, os dentes organizam-se
de tal forma que a sobreposição dos anteriores impedem que os posteriores
entrem em contato tanto no lado de trabalho quanto no de balanceio durante as
excursões mandibulares. Essa separação da oclusão recebeu o nome de
desoclusão. Segundo esse conceito de
oclusão, os dentes anteriores suportam toda a carga e os posteriores ficam em
desoclusão em qualquer posição excursiva da mandíbula. O resultado desejado é
ausência de atrição.
A posição de máxima intercuspidação coincide com a posição ótima dos côndilos
nas cavidades glenóides. Todos os dentes posteriores ficam em contato com as
forças direcionadas ao longo de seus eixos longitudinais. Os dentes anteriores
entrem em contato leve ou ficam sem contato, o que alivia as forças de direção
obliqua que resultariam do contato.
Como consequência da proteção que os dentes anteriores dão aos
posteriores em todas as excursões mandibulares e da proteção que os dentes
posteriores dão aos anteriores na intercuspidação, esse tipo de oclusão passou
a ser conhecida como oclusão mutuamente protegida.
Para reconstruir uma boca usando-se a oclusão com proteção mútua é necessário
que haja dentes anteriores sadios do ponto de vista periodontal. Se houver
degeneração óssea anterior ou ausência dos caninos, provavelmente haverá a
necessidade de restabelecer a função de grupo.
O uso da oclusão com proteção mútua também depende da relação ortodôntica dos
arcos opostos. Tanto na maloclusão Classe II quanto na III (Angle), a mandíbula
não pode ser guiada pelos dentes anteriores. Não se pode utilizar a oclusão com
proteção mútua nas situações de
oclusão
invertida, ou de mordida
cruzada, na qual as cúspides vestibulares dos dentes superiores e inferiores
interferem mutuamente na excursão para o lado de trabalho.
fonte: Resumo do livro "Fundamentos de Prótese Fixa" Shillingburg